A tragédia inesquecível de Mariana, Minas Gerais: Consequências

O rompimento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco,cujos donos são a Vale a anglo-australiana BHP, causou uma enxurrada de lama que inundou várias casas no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, na tarde desta quinta-feira 5 de novembro. Inicialmente, a mineradora havia afirmado que duas barragens haviam se rompido, de Fundão e Santarém. No dia 16 de novembro, a Samarco confirmou que apenas a barragem de Fundão se rompeu. Ibama diz que quase 1,5 mil hectares foram destruídos por desastre ‘É impossível estimar um prazo de retorno da fauna ao local’, aponta laudo. Estudo preliminar aborda impactos ambientais e sociais em MG e no ES.
Um laudo técnico preliminar do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) aponta que 1.469 hectares de vegetação – ao longo de 77 quilômetros de cursos d’água, inclusive em áreas de preservação permanente – foram destruídos pelo rompimento da barragem da Samarco, cujas donas são a Vale a BPH Billiton, em Mariana. Mais de 600 afluentes foram afetados, e agora a lama já chega em “Registro”, litoral do Espírito Santo. O local tambem sofre duramente as consequências da lama no mar: donos de pousadas, comenrciantes locais, pescadores , surfistas e turistas foram afetados e mudam suas rotinas. A vida marítima tambem foi comprometida, e a mancha caminha em direção ao alto mar sem rumo certo. Uma das observações importantes, é que a mesma não se mistura com a água do mar, despertando curiosidade em estudiosos ambientais. Além dos danos à vegetação, o estudo, divulgado pelo jornal 'O Estado de S.Paulo', também destaca os impactos à fauna, à qualidade água e socioeconômicos. O laudo indica que, a execução das medidas de reparação de danos, quando viáveis, durará pelo menos dez anos. Em relação aos animais, o documento não traz dados animadores. “O nível de impacto foi tão profundo e perverso ao longo de diversos estratos ecológicos, que é impossível estimar um prazo de retorno da fauna ao local, visando o reequilíbrio das espécies na bacia do rio Doce”, traz o documento. Segundo informações apresentadas pelo Ibama, mais de 80 espécies habitavam a bacia hidrográfica antes do desastre ambiental. Dentre elas, 11 estavam ameaçadas de extinção e 12 são exclusivas ao rio. Somente no período entre 16 e 23 de novembro, no trecho entre as cidades capixabas de Baixo Gandu e Linhares, quase 7,5 mil peixes mortos foram recolhidos. Entretanto, de acordo com o laudo, a mortandade de animais pode ser ainda maior do que a aparente. Como a maioria dos peixes do rio é de pequeno porte, eles podem se decompor rapidamente ou talvez não flutuem após perderem a vida. Além disso, o rompimento da barragem ocorreu justamente na época de reprodução de peixes e crustáceos. Segundo o Ibama, os danos chegam a toda cadeia alimentar, afetando desde plânctons até os mamíferos. “Essas alterações poderão até provocar um aumento no grau de ameaça de extinção das espécies já ameaçadas, bem como tornar ameaçadas espécies antes abundantes”. O Parque Estadual do Rio Doce, maior área preservada de Mata Atlântica de Minas Gerais, também está ameaçado, conforme o estudo. A lama de rejeitos, segundo o Ibama, tem potencial de extravasar a calha do rio e atingir o sistema de lagoas e florestas ciliares da reserva. Conforme o relatório, 34 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério vazaram da barragem de Fundão, no dia 5 de novembro. Outros 16 milhões de metros cúbicos seguem sendo carreados por mais de 663 quilômetros e, por isso, segundo o Ibama, “pode-se dizer que o desastre continua em curso”.
De acordo com o laudo, em Bento Rodrigues, em Mariana, das 251 edificações do subdistrito, 207 estão na área atingida pelo mar de lama. Esse levantamento, entretanto, ainda não foi feito em outras localidades como Paracatu de Baixo, a segunda mais atingida. Ao longo do caminho percorrido pela lama, ao menos 1.249 pescadores foram afetados em mais de 40 cidades mineiras e capixabas. Em relação ao impacto na qualidade da água, além da suspensão do abastecimento nos municípios afetados, a presença de metais e alteração de outros parâmetros indica a necessidade de monitoramento contínuo do ambiente afetado. O laudo é finalizado com uma enumeração de medidas de recuperação que devem ser tomadas. Entre as ações voltadas para o meio ambiente, estão a elaboração de planos de recuperação e conservação do solo e da água, de gerenciamento do material retirado do rio Doce e de monitoramento ambiental da bacia. Com relação aos impactos sociais, além da reconstrução das estruturas afetadas e realojamento de pessoas, o estudo recomenda a execução de pesquisa social, visando ao conhecimento da percepção de riscos de rompimento de barragens. O laudo ainda ressalta que deve ser dada atenção especial a populações indígenas, àqueles que trabalham com ecoturismo e a comunidades de pescadores e de pequenos agricultores. E em meio a toda a catátrofe ocorrida, os 'heróis de verdade' aparecem e bravamente encaram a lama para resgatar animais encalhados e presos na lama, passando fome, com sede e sem poder se mover. Alguns resgates forma realmente emocionantes!
A Lama no mar do espírito Santo Além da preocupação com a qualidade da água do mar, o principal atrativo turístico do estado, as pessoas tendem a se preservar e não fazer grandes comemorações ou viagens em momentos de desastres, como o ocorrido em Mariana e com o Rio Doce, na avaliação de Caus. “As pessoas tendem a se preservar em desastres assim. E aquilo foi uma catástrofe”, completou. Segundo registros do Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema), a lama deslocou-se 30 quilômetros para o Norte da foz em Linhares, outros cinco quilômetros ao Sul e mais 20 quilômetros a Leste, ou seja, mar adentro. O rumo seguido pela lama depende principalmente das ondas e da direção que o vento sopra. Com essas quilometragens, por enquanto a lama está na altura de Regência e de Povoação, em Linhares. O balneário Pontal do Ipiranga, na parte mais ao norte de Linhares, não foi atingido pela lama, mas também sofre.
"Consequências permanentes do desastre ambiental de Mariana" : Para o médico patologista Paulo Saldiva, um dos grandes especialistas em poluição ambiental do mundo, a ruptura das barragens da mineradora Samarco, em Mariana (MG), ocorrida no dia 5 de novembro, é a maior tragédia ambiental de toda a história do País. A Samarco é uma joint-venture da companhia Vale do Rio Doce e da anglo-australiana BHP. Segundo o pesquisador, os rejeitos da Mina de Germano, no município de Mariana (MG), formarão um “tapete mortal” no fundo do Rio Doce e seus afluentes. Além disso, podem penetrar o solo e infiltrar no lençol freático, inviabilizando o plantio e o uso da água de poços. O pesquisador também diz que a divulgação do tipo e do teor dos resíduos tóxicos contidos na mistura de rejeitos e lama não poderia demorar tanto. “Isso impede a definição de medidas e agrava os riscos para o ambiente e à saúde das pessoas.” Saldiva, entre outras atividades, dirige o Laboratório de Poluição Atmosférica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, é membro do Comitê de Qualidade do ar da Organização Mundial de Saúde e pesquisador do Departamento de Saúde Ambiental da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Também colunista do canal Saúde!Brasileiros. (Saúde!Brasileiros) – Como será o futuro da vida e a saúde humana na região afetada pelos rejeitos da mineradora Samarco? (Paulo Saldiva) – Muito complexo. Essa lama não é normal, mas sim um rejeito de mineração. Deve ser rica em ferro, mas há outros elementos. Dependendo do processo de mineração, por exemplo, os rejeitos contêm substâncias que modificam o pH do solo e da água, que pode ser tornar muito básico ou muito ácido (em função do que se usa para extrair o ferro). Isso afeta as espécies, mas a natureza consegue se reequilibrar. O problema é que o tipo e o teor dos resíduos de metais pesados que podem estar nessa lama ainda não é conhecida com precisão. Isso atrasa a adoção de medidas para lidar com o impacto ambiental, que é imenso. Por que ainda não se sabe o tipo e teor dos metais pesados e outras substâncias presentes nos rejeitos? Impressiona que a informação não tenha sido divulgada claramente até agora. Eu não tive acesso a esses dados e acho que ninguém teve. Entre as substâncias tóxicas que podem estar associadas ao ferro nos rejeitos podem estar os metais chumbo, arsênico, cádmio e manganês. Essas informações já poderiam ter sido divulgadas? Seria muito importante que os dados já estivessem disponíveis para que os centros de pesquisa do País e internacionais pudessem estudá-los e sugerir ações. Existe tecnologia disponível para identificar com segurança o tipo e a quantidade dos resíduos tóxicos em situações como essa. Há um teste chamado espectroscopia de fluorescência de Raio X que pode ser feito com máquinas portáteis no local. Aí você consegue saber com quais substâncias e em qual quantidade se está lidando. A demora no conhecimento dessas informações multiplica os danos e riscos à saúde das pessoas. Sem saber o que há nessa mistura de lama e rejeitos, é possível estimar os riscos para fauna e flora? Essa lama vai, por assim dizer, “asfaltar” o fundo do rio. Isso significa que o Rio Doce e qualquer afluente onde ela se depositar estarão mortos por muito tempo. E, consequentemente, o ecossistema a ele associado. É um desastre de proporções gigantescas. Será possível plantar novamente na área afetada daqui a algum tempo? Sem os dados do que há nos rejeitos e na lama, não podemos saber. Mas além de reduzir muito a fertilidade do solo da região atingida, os elementos tóxicos podem se acumular e percolar para o lençol freático, lá permanecendo. O que vai acontecer com as áreas que receberam o banho de lama? O distrito da cidade de Mariana, Bento Rodrigues, provavelmente irá se acabar. Será uma área que morreu, assim como pode acontecer com a cidade. Porque, economicamente, é quase impossível remover toda a camada de lama que ficou e fazer os testes necessários para saber se será possível continuar vivendo ali. Você cavaria um poço para tomar água, independentemente da profundidade, sem examinar a qualidade dessa água? Se a população não for alertada sobre isso, é uma loucura. Aconteceu ali algo de proporções semelhantes a um acidente nuclear? Seria mais grave do que o acidente com césio 137, em Goiânia, em 1987? Por sua extensão e pela magnitude do impacto sobre a economia e os ecossistemas afetados, o acidente em Minas Gerais têm maiores proporções do que o ocorrido pela contaminação por Césio em Goiânia. O que precisa ser feito? Como eu disse, é urgente determinar quanto de metais pesados e outras substâncias tóxicas há no solo e se ele poderá ser propício à agricultura. Isso não diz respeito apenas à fertilidade. Vou dar um exemplo típico do que pode acontecer para mostrar a extensão do problema. A cidade de Boston, nos Estados Unidos, começou a estimular as hortas comunitárias. Como é uma cidade antiga e os seus encanamentos eram de chumbo, era de se imaginar que houvesse algum teor de chumbo no solo de Boston. Mas as hortas nos quintais das casas mais antigas começaram a ser feitas sem que essa informação merecesse maior preocupação. Como o solo estava contaminado de fato, os problemas começaram a aparecer na década de 2000. Um estudo revelou, por exemplo, que as raízes de algumas verduras e legumes chegavam até a profundidade em que havia acúmulo do metal, que não é eliminado pelo organismo. As pessoas pensavam estar comendo algo saudável, mas na verdade era comida contaminada por metais pesados. Nas áreas afetadas em Minas, pode acontecer o mesmo. O que pode acontecer com a qualidade da água na cidade? Se o encanamento for ruim ou diminuir a pressão no cano (como ocorre no racionamento) há uma pressão ao contrário, de fora para dentro. Com isso, dependendo de onde passa o cano, se tiver um vazamento do esgoto ao lado, ou se o solo estiver encharcado e com poluentes, a água se contamina ao longo do trajeto. E com a água de poços artesianos, mais profundos? É necessário examinar essa água e o solo. Um exemplo será mais eloquente do que eu para dar um panorama da situação: lembro-me do que ocorreu em Bangladesh, na Índia, quando as pessoas estavam morrendo de fome e sede por causa desertificação. Isso motivou a Unicef e o Banco Mundial de Saúde a furar milhares de poços para obter água nos anos 1960 e 1970. O que ninguém sabia é que o solo de Bangladesh continha muito arsênico. A consequência foi que logo surgiram milhões de casos de arsenismo, insuficiência renal e câncer de pele. Quero dizer que é absolutamente imprescindível conhecer o teor dos metais pesados do solo antes de tomar medidas como abrir poços ou plantar alimentos na região. É possível recuperar o solo dessa região? Para limpar essa camada de lama, você teria de retirar fisicamente o solo, o que é impossível. O que pode ser pensado é um projeto de bioremediação. Dependendo da profundidade em que esses resíduos estão, é escolhido um tipo específico de planta. Algumas espécies vegetais, como a mamona, conseguem retirar do solo os metais pesados, sugando-os. Evidentemente, essas plantas não podem ser comidas. Isso nunca foi feito sistematicamente aqui no Brasil, mas talvez seja uma chance. Como se calcula a compensação a ser feita em um desastre ambiental desse porte? Uma empresa do porte da Samarco é muito importante para a economia da região. Para onde irão os moradores dessas cidades? Trabalhar em que? Com quais recursos, se muitos perderam tudo? O que vai acontecer agora é que provavelmente o Ministério Público federal ou estadual irá contratar peritos e exigir um diagnóstico que a empresa deve pagar. A Samarco, que pertence ao Grupo Vale do Rio Doce e à anglo-australiana BHP Billiton, deverá gastar um bom dinheiro com o diagnóstico e as indenizações. A verdade é que faltam algumas peças importantes para fazer essa avaliação. Mas há técnicas de valoração bem estabelecidas para valorar essa contaminação do solo. Por exemplo, se a empresa não quiser examinar o solo e for pagar o valor real da perda, o cálculo pode ser feito pegando-se o preço do metro quadrado de 500 quilômetros lineares por três quilômetros de largura, que é o curso do rio de lama, e pagar o que isso custaria a cada proprietário. Mas muitos deles envelhecerão antes de ver a cor da indenização. O perigo dos metais pesados : A exposição prolongada aos metais pesados é perigosa porque eles são facilmente absorvidos pelos organismos vivos. Entre os mais usados pela indústria, estão o mercúrio, arsênio, cádmio, manganês e chumbo. De modo geral, seu acúmulo no organismo prejudica as funções neurológicas, o sistema imune e o funcionamento dos pulmões, rins e fígado. Estudos apontam danos específicos conforme o tipo de metal O mercúrio, por exemplo, atinge mais fortemente o cérebro, o coração, os rins e pulmões e o sistema imune. O excesso de cádmio está associado às disfunções renais, doença pulmonar obstrutiva, câncer de pulmão e comprometimento ósseo (osteomalacia e osteoporose). Chumbo atinge diretamente o funcionamento dos rins, o trato gastrointestinal, o sistema reprodutivo e faz lesões agudas ou crônicas do sistema nervoso, além de danos ao sangue. O excesso de manganês decorrente de exposições prolongadas pode causar rigidez muscular, tremores das mãos e fraqueza, problemas de memória, alucinações, doença de Parkinson, embolia pulmonar e bronquite. O arsênio está ligado ao aparecimento de lesões e câncer de pele, bexiga e pulmão e doenças vasculares. (Créditos: G1 / Revista 'Saúde brasileiros')

Comentários

  1. Amiga, eu acho que a vida nessa cidade ficou estéril e contaminado, dificilmente a água e o solo voltará ser o mesmo, saudável e cheio de vida. bjs!

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